FÉ: CONDIÇÃO ÚNICA PARA A SALVAÇÃO

As Escrituras deixam claro que uma pessoa é salva pela fé. Em Romanos 4:1-4 Paulo descreve que a justificação nossa perante Deus é imputada pela fé, assim como ocorreu com Abraão. O mesmo Paulo escreve aos gálatas que nenhuma obra da lei ou obra que nossa carne produz pode trazer justificação para nós.

Isto acontece simplesmente porque, apesar de termos dificuldades em aceitar essa verdade, somos completamente e totalmente maus. Isso não quer dizer que cometemos o maior número possível de maldade que conseguirmos. Na verdade dizer que somos completamente maus é dizer que todo o nosso ser é mau, desde as nossas obras até nossos pensamentos, vontades e desejos. Não é um problema superficial mas um problema que atinge todo o âmbito do ser humano. É do interior do coração dos homens que saem os frutos do pecados e da carne (Mc 7:21-23). Este coração é mais perverso e enganoso do que qualquer outra coisa (Jr 17:9), estando cheio de maldade (Ec 9:3).

Sabendo que o problema não é apenas exterior pode-se concluir que nem mesmo o melhor ato de bondade de nossa parte é capaz de trazer justificação nossa perante Deus. Nós pecamos contra um Deus infinitamente Santo e Justo, fazendo com a justiça de Deus aplicada sobre nós não seja menor que a infinita condenação. É por este motivo que Isaías diz que nossas obras para Deus são como trapos de imundícia (Is 64:6).

A fé que nos traz salvação e justificação é dada por Deus em forma de dom gratuito, afim de que ninguém possa se gloriar em nada da sua prórpia salvação (Ef 2:8-9). Esta fé não pode ser definida apenas como um sentimento, uma aceitação passiva, um desejo interno do ser humano ou uma asserção intelectual. Ela é um porto seguro, uma confiança firme no favor divino para conosco, movendo nossa mente, nosso corpo, nosso coração e nossa vontade à esta confiança. Este é o motivo pelo qual uma vez que a fé nos trouxe a salvação inevitavelmente seremos levados a viver de acordo com essa crença, pois somos salvos em Cristo Jesus para as boas obras que Deus já havia preparado para que andássemos nelas (Ef 2:10). É isso que Tiago afirma quando diz que somente uma fé morta deixaria de produzir obras, sendo as obras a prova da nossa fé (Tg 2:17).

A maioria de nós não tem muitos problemas em acreditar que a fé é condição para a salvação. O nosso maior problema é acreditar que a fé é condição sine qua non (ou condição única) para a salvação. Se levantassemos uma lista de coisas que precisam ser feitas para que um indivíduo seja salvo com certeza a fé entraria nesta lista. Mas não sozinha. Para nós é sempre fé mais obras, fé mais amor, fé mais dons, fé mais lei, fé mais circuncisão, fé mais batismo, ... jamais fé sozinha. Provavelmente ela nem ocuparia a primeira posição da nossa lista.

O propósito do presente estudo é falar sobre mais um desses itens que são colocados ao lado da fé como condição para a salvação, e este item é o “Arrependimento”. Apesar de ser um tema complicado eu pretendo, se Deus assim permitir, trazer uma luz com relação ao que é o arrependimento genuinamente bíblico e tentar desmistificar a idéia de que o arrependimento é mais uma condição além da fé para salvar o homem.

ARREPENDIMENTO: DEFINIÇÃO

Na grande maioria das vezes a nossa definição de arrependimento é sempre a parte exteriorizada do negócio. É aquilo que a pessoa faz com o objetivo de ser melhor do que antes. Arrependimento é tomar vergonha na cara, ser religioso, andar na linha, mudar minhas atitudes. Resumindo: normalmente o conceito que temos é de algum tipo de aprimoramento que se faz necessário para sermos pessoas melhores. E é mais ou menos este conceito que a maioria de nós tem com relação ao arrependimento para a salvação. De acordo com a nossa mente o arrependimento tem a ver com o nosso passado, mas tendo em vista o presente, objetivando um futuro melhor. Para a salvação funcionaria assim: você é um pecador e precisa melhorar. Portanto largue o cigarro, a bebida, os vícios, desista da prostituição, do adultério, das mentiras, da roubalheira, etc, e depois que você cumprir uma lista de exigências aí sim você estará apto para a salvação. Depois que você mudar sua vida completamente Deus ficará feliz e estará a sua espera do outro lado desta estrada, de braços abertos, pronto para te salvar.

Na teoria um discurso assim aparentemente é lindo, uma vez que o evangelho é uma coisa que deve ser levada a sério. Contudo, existe um problema implícito em pensarmos desta maneira. Se olharmos com atenção esta lista de exigências perceberemos que voltamos a estaca zero, enfatizando novamente as obras como condição para a salvação. Nossas mentes estão tão saturadas de obras que para nós é necessário ver mudanças no indivíduo para que realmente falemos que ele pode ser salvo, isto porquê, para a salvação, não basta apenas você visualizar e ter ciência da sua condição de pecador; é necessário que você abandone o pecado antes.

Pensar desta maneira é totalmente anti-bíblico, uma vez que damos enfaze às obras da carne. Já foi comentado que o homem não pode mudar a si mesmo, assim como o leopardo não pode mudar as suas manchas ou o etíope mudar a cor da sua pele (Jr 13:23). Deus nunca intencionou dar um jeitinho na nossa natureza humana, muito menos planejou que nós fizessemos alguma coisa para melhorar a nossa natureza adâmica. A intenção de Deus é revelada na cruz: morte e destruição ao velho homem, e não melhora do mesmo.

Quando colocamos uma lista de exigências que devem ser cumpridas para a salvação então nunca aceitaremos o fato de que Deus chama o o pecador ao arrependimento na condição que ele se encontra atualmente: PECADOR (Lc 5:29-32; Mt 9:10-13). Jesus não está interessado nos nossos sacrifícios, nem se importa com os nossos holocaustos ou nossas obras. O que Ele quer são pecadores cônscios do estado em que se encontram.

Quantas pessoas têm duvidado da segurança da sua salvação porque estão exigindo de si mesmas (uma vez que foram ensinadas desta maneira) que o arrependimento salvífico deve ser igual ao arrependimento de um crente maduro que está na caminhada cristã a uns 20 ou 30 anos! Muitos ensinam desta maneira sem perceberem que estão correndo o risco de fechar o Reino de Deus e manter pessoas fora dele. Fazem exigências que nem eles mesmos cumprem. Querem um arrependimento que nem mesmo Deus exige!

Percebe como o nosso modo de pensar no arrependimento é falho? Notou como o modelo de arrependimento que temos aprendido é deficiente? Se isto ficou claro então faz se necessário entendermos o que é o arrependimento realmente bíblico.

ARREPENDIMENTO NAS ESCRITURAS

Antes de tentar expor o verdadeiro significado do arrependimento bíblico primeiramente eu gostaria de enfatizar que o arrependimento é uma das verdades fundamentais e essenciais das Escrituras, sendo o homem convocado constantemente ao arrependimento por toda a Bíblia. Vejamos alguns exemplos disso:

· João Batista, em Mateus 3:2
· Jesus, em Mateus 4:15-17
· Os doze comissionados, em Marcos 6:12
· Pedro no Pentecostes, em Atos 2:38
· Paulo aos gentios, em Atos 26:20
· Das sete igrejas do Apocalipse, cinco recebem como exortação a convocação ao arrependimento
· Apelo constante dos profetas no Antigo Testamento
· O resumo do evangelho de Cristo que deveria ser pregado ao mundo, em Lucas 24:46-48.

Tantas referências assim só nos mostram como a mensagem do arrependimento é importante e, sendo de tamanha importância, torna-se mais importante ainda nós termos uma definição correta deste tema tão abordado nas Escrituras.

Arrependimento vem da palavra grega metanoia, que quer dizer “mudança de mente”. Somente isso: mudança de mente. Não mudança de conduta, não mudança de atitude, não mudança de hábito. Simplesmente mudança de mente.

Uma das grandes vantagens da língua grega é que ela é uma das melhores línguas (se não for a melhor) para que uma pessoa consiga expressar exatamente aquilo que ela quer dizer. Quantas vezes falamos ou escrevemos alguma coisa na língua portuguesa e as pessoas não entendem o que queriamos realmente dizer, ou não entendem o sentido, ou o sentido do que nós escrevemos ou falamos fica duplicado. Isto raramente acontece no grego. No grego quando um autor escreve “algo” pretendendo dizer “algo” ele realmente diz “algo” e todos entendem o que ele realmente quis dizer. Existe no grego uma riqueza de vocábulos para expressar cada situação. É bom lembrarmos que o Novo Testamento foi todo escrito em grego. Isto quer dizer que quando um autor intentou escrever sobre arrependimento usando o vocábulo metanoia ou suas variações então ele realmente estava falando sobre mudança de mente.

É nessas horas que entra o famoso “gato”, “ponte”, “gancho” ou seja lá que nome você costuma dar ao ato de tentar dar um “jeitinho” em algum versículo para que ele possa se encaixar nas nossas ideologias. Tentamos interpretar o texto de acordo com o nosso achismo e não de acordo com o que Deus e o autor pretendiam dizer. Contudo, “texto fora do contexto é pretexto”. Quantos estudos sobre arrependimento eu já vi que começavam assim: “Arrependimento significa mudança de mente. Mas quer dizer muito mais do que isso...”. Não! Não quer dizer mais do que isso! É apenas mudança de mente mesmo, e é isso o que Deus quer de um pecador.

Mas mudar exatamente o que na mente?

ARREPENDIMENTO: UMA MUDANÇA DE MENTE

Em Gênesis 3 é relatado a queda do homem (mais precisamente Gn 3:1-7). Repare neste trecho que Eva foi levada a comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal quando a serpente disse: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal (vs. 5)”.

Quando o homem viu a possibilidade de ser como Deus e saber o que Deus sabe então ele resolveu desobedecer a ordem expressa de Deus: “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás (Gn 2:17)”. Ao comer, o homem pecou contra Deus e com este pecado o que Adão (e Eva, claro) estava dizendo era que Deus não era mais necessário. Por qual motivo o homem precisaria de Deus se ele sabe o que Deus sabe e conhece o que Deus conhece? A motivação deles foi unicamente serem como Deus. Estavam dizendo: “nós não precisaremos dEle se formos como Ele”.

Se olharmos ao nosso redor notaremos que é este o pensamento que impera na nossa humanidade. O ser humano vive segundo a sua própria vontade, escravo dos seus prazeres e desejos. Não se importa com a existência de Deus e não faz questão alguma de seguir os desígnios dEle. Para o homem não regenerado servir a Deus é sinal de fraqueza e esta dependência de um ser Supremo não traz agrado.

O pecado causou separação nossa com Deus. No antigo testamento os homens se esforçavam para conseguirem o agrado de Deus e a purificação dos seus pecados através dos sacrifícios e obediência a lei. Mas nós vimos que isso não serve para nada e não pode resolver o nosso problema e é por isso que o homem precisa mudar a sua mente. O arrependimento, portanto, serve para gritar aos ouvidos dos homens: “VOCÊS NÃO PODEM!”. Esta é a mensagem do arrependimento. Esta é a semente do arrependimento para a salvação. “Deus é tudo. Eu preciso dEle”. A mudança da nossa mente se faz necessária para nos levar a parar de confiarmos na força do nosso braço e nos levar novamente a confiarmos em Deus.

Vemos em Romanos 5:20 que onde abunda o pecado superabunda a graça. Logo, a partir do momento que o pecador tem consciência do seu estado lamentável a graça tem espaço para reinar.

A mudança da mente é para que o pecador perca completamente as esperanças em sim mesmo. Enquanto o pecador não tiver todas as esperanças em si mesmo e na força dos seu próprio braço, nos seus feitos, nas suas obras ou na sua caridade, completamente destruídas ele nunca poderá se voltar verdadeiramente a Cristo. O arrependimento pertence exclusivamente à religião dos pecadores. Não tem lugar na vida das criaturas não caídas ou na vida daqueles que não reconhecem a sua real condição (Lc 13:1-5). Aqueles que nunca cometem pecados, que são tido como justos, que não possuem uma natureza pecaminosa não precisam do perdão de Deus ou do arrependimento. Portanto a mudança da mente pode ser um simples “eu não consigo, eu não sou capaz”.

Perceba que o arrependimento para a salvação não tem a intenção de pegar a nossa natureza caída, fazer com que esta natureza produza algumas obras melhores, suba um degrau no seu comportamento para só assim estar apta para a salvação. O arrependimento é justamente o contrário: é feito para trazer humilhação e vergonha da vida que você vivia, revelando um sentimento de total incapacidade, com o único propósito de destruir nossa auto-estima.

O ARREPENDIMENTO ESTÁ INCLUSO NA FÉ SALVÍFICA

Mas como pode o homem, com sua natureza caída, enxergar a sua verdadeira condição? Realmente fica claro para nós que o homem em seu estado natural de servo do pecado (Jo 8:34), inimigo de Deus (Rm 1:30), ignorante e duro de coração (Ef 4:18) não tem a menor capacidade de enxergar a sua própria condição. Por isso se faz necessário que Deus realize algo. Somente uma intervenção divina poderá trazer luz aos olhos do cego de nascença.

Existem dois exemplos básicos que costumo usar para explicar a intervenção de Deus para que o homem possa olhar a sua real condição:

· A visão de Isaías (Is 6:1-5)
Se olharmos o capítulo 5 de Isaías veremos o autor do livro proferindo várias condenações aos povos em volta dele. Muitos “ais” são pronunciados contra as nações vizinhas de Israel. Contudo, quando este homem teve uma visão de Deus, uma visão da santidade dEle, os “ais” que ele pronunciava às nações se voltam contra ele mesmo. Ele enxerga a sua real condição e muda completamente o discurso dele, dizendo: “Ai de MIM! Pois ESTOU PERDIDO; porque SOU um homem de lábios impuros, e HABITO no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos (vs. 5)”.

· Paulo na estrada de Damasco (At 9:1-9)
Algo semelhante acontece com Paulo, anteriormente Saulo, no caminho para Damasco. Paulo era um homem que zelava pelo cumprimento da lei dos judeus e isto o levava a caçar e aniquilar todos aqueles que se diziam seguidores do Cristo. Não aceitava em hipótese alguma que Jesus era o Deus encarnado e o Messias que traria salvação a humanidade. Certa vez, Paulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, pede cartas para Damasco, pretendendo conduzir preso qualquer homem ou mulher que fizesse parte da seita dos seguidores de Jesus. No caminho para Damasco Jesus aparece a Paulo e diz: “Saulo, Saulo, por que me persegues? (vs. 4)”. Com a visão não restou nada nos lábios daquele ex-judeu zeloso, a não ser um: “Senhor, que queres que eu te faça? (vs. 6)”. Ver o Senhor mudou completamente a vida daquele homem, fazendo com que ele ficasse três dias sem comer e sem beber nada pensando no que tinha vivenciado.

Algo semelhante precisa acontecer na vida do homem caído. É necessário uma visão de Deus, de Cristo, para que o homem tenha um real comparativo para si mesmo. Se olharmos apenas na horizontal nunca veremos a nossa real condição. O ser humano não é um bom grau de comparação para nós mesmos. Sempre serei melhor do que fulano ou ciclano porque faço mais caridades, ou porque não tenho tantos vícios como o outro, eu porque sou mais fiel a minha esposa, etc. Contudo apenas um vislumbre da luz de Cristo é mais do que suficiente para revelar a nossa real condição. Comparados com o próprio Cristo quem ficaria inescusável ou sem culpa? Quem se sentirá santo o suficiente ao ficar defronte ao Ser cuja essência é a santidade?

A luz de Cristo é mais do que necessária para revelar a nossa real condição. Se eu estiver em uma sala escura não há como eu olhar para as roupas que estou vestindo e dizer que elas estão sujas. Ao passo que se uma luz for acesa no meio das trevas então será possível eu avaliar se minhas vestes realmente estão limpas ou não. E é neste momento que entra a fé.

A fé leva-nos a olhar para Cristo, enquanto o arrependimento é uma consequência do olhar para nós mesmos através da luz de Cristo. A fé faz com que meu corpo fique voltado na direção da luz de Cristo. Quando esta luz bate em mim eu posso analisar a minha condição e ver que estou em trevas.

Para que se cumprissem as Escrituras, logo após Jesus ouvir que João Batista estava preso, Ele deixa Nazaré e vai habitar Cafarnaum, e então é relatado “o povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; e, aos que estavam assentados na região e sombra da morte, a luz raiou” (Mt 4:12-16). É esta luz que precisa brilhar em nossas trevas.

Enquanto o arrependimento revela a nossa doença, a fé revela o nosso remédio. Enquanto o arrependimento revela que eu não posso me salvar, a fé mostra que Jesus pode! Como é maravilhoso isso!

Perceba que não é fé mais arrependimento que traz a salvação. A verdade é que a fé salvífica não vem sem o arrependimento. É impossível para o homem que enxerga a luz de Cristo não enxergar a escuridão em si mesmo. Quando o homem crê ele vê o que Deus fez por ele em Cristo Jesus. Quando ele vê Cristo ele é levado a se arrepender por reconhecer as suas próprias obras no passado e a sua real situação no presente. O que o homem fez no passado é arrependimento. Ver o que Jesus fez na cruz do Calvário é fé.

Um dos momentos mais lindos que vejo nas Escrituras referente a salvação é o episódio relatado em Lucas 23:39-43, que fala dos malfeitores que foram cruxificados junto com Jesus. Veja o que diz o malfeitor que inaugurou o Paraíso ao lado de Cristo (vs. 43) ao outro indivíduo que blasfemava contra Jesus: “Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.”

Todas as vezes que leio este trecho eu me emociono vendo com quão grande graça Deus tem nos salvado. Veja que a primeira atitude do malfeitor é reconhecer que ele estava pagando pelo que ele fez. Ele reconheceu o seu estado, o seu pecado e que era digno de condenação. Ao mesmo tempo a fé dele em Cristo é mostrada quando ele pede para que Jesus lembre-se dele quando entrasse no reino. Amado, isso é salvação. Ele não precisou fazer mais nada, não precisou repetir uma oração, levantar o braço, ir até o altar, fazer um sacrifício, nada! Apenas fé produzindo arrependimento naquele coração. Quão glorioso é isso!

Portanto, apesar de na teoria sempre tentarmos separar o arrependimento da fé dizendo que salvação vem pela fé mais arrependimento, a grande verdade é que o arrependimento está incluso na verdadeira fé. Quando eu digo que estou salvo é porque o arrependimento está incluso nisso. Ele é a evidência da salvação em nós e esse arrependimento será cada dia mais crescente na vida dos salvos.

SALVAÇÃO: OBRA EXCLUSIVA DE DEUS

Já foi falado que a salvação vem pela fé e é obra exclusiva de Deus (Ef 2, 8). Então se eu digo que o arrependimento está incluso na fé que salva logo é esperado que esse arrependimento também não seja algo gerado por nós mesmos, mas sim por Deus.

Embora o arrependimento seja um dever óbvio de todo pecador, ele só pode ser realizado de modo verdadeiro e eficaz pela graça de Deus. A natureza humana não pode se rebelar contra ela mesma para que seja produzido arrependimento. Mesmo que ela pudésse fazer isso a verdade é que o o homem não quer isso. Mas felizmente a bíblia deixa algumas referências claras que dizem que Deus, sendo suficiente para salvar, provê o arrependimento necessário:

“E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, A VER SE PORVENTURA DEUS LHES DARÁ ARREPENDIMENTO PARA CONHECEREM A VERDADE, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos.” (II Tm 2:24-26)

“Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para [DEUS] dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.” (At 5:31)

“E, ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e glorificaram a Deus, dizendo: na verdade até aos gentios DEU DEUS O ARREPENDIMENTO PARA A VIDA.” (At 11:18)

Esses versículos estão de acordo com promessas feitas por Deus no antigo testamento:

“E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis... E livrar-vos-ei de todas as vossas imundícias.” (Ez 36:26-27, 29)

“E farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim.” (Jr 32:40)

Deus prometeu que Ele resolveria o problema do nosso coração e Cristo é a solução para este problema. Muitos conseguem notar em si mesmos que a conversão que tiveram foi obra única e exclusiva de Deus. Na primeira vez que ouvimos o evangelho ele não nos trouxe agrado nenhum. De repente, em um estalar de dedos, abrem-se os nossos olhos e dizemos: “Eu me arrependo!”. Ai as coisas que antes eram odiosas se tornam as mais maravilhosas , enquanto que o pecado que nos trazia prazer e agrado agora se torna nojento e repugnante. Só Deus pode mudar nossa natureza desta maneira.

POR QUE ENFATIZAR TANTO A SALVAÇÃO COMO OBRA SOMENTE DE DEUS?

Posso oferecer pelo menos três respostas a essa pergunta:

· Para que Deus tenha toda a glória
Deus não divide a glória dEle com ninguém. O homem sempre quer ter parte na salvação de si mesmo. Costumamos dizer que “Deus me salvou. Mas eu tive que dizer sim”, “Deus me salvou. Mas fui eu quem levantou a mão e repetiu a oração do pastor”, “Deus me salvou. Mas eu é quem fui até o altar e me prostrei lá na frente”. MENTIRA!!! Deus fez tudo! Somente Ele! Isso para que ninguém se glorie em nada, nem um infinitésimo de porcentagem deve ser dado a nós mesmos na nossa salvação. Não deve existir nenhuma possibilidade no grande Dia para que eu encha o peito e diga: “Vocês aí que estão se perdendo e indo para o inferno. Bem feito! Se fossem tão inteligentes quanto eu teriam aceitado o evangelho que foi pregado. Se fossem tão espertos quanto eu teriam dado atenção a mensagem. Se fossem tão sábios quanto eu vocês teriam ido à igreja que eu frequentava...”. Deus, sendo o único autor da nossa salvação, não permite que haja espaço para qualquer tipo de argumentação a nosso favor. Precisamos reconhecer o nosso real estado para podermos glorificar a Deus na medida que Ele merece.

· Para ter segurança na sua salvação
Muitos têm baseado a salvação em coisas tão banais que facilmente são levadas a dizer que perderam a sua salvação. Se um pastor faz um apelo dentro de uma igreja do tipo: “Quem não tem certeza da sua salvação ou está se sentindo longe de Deus venha até a frente que vamos orar por você” é certo que na maioria das congregações mais da metade das pessoas que estão na igreja vão a frente receber oração. Mas no que essas pessoas estão baseando a salvação delas? Normalmente elas ainda se baseiam nas suas próprias obras. “Se eu não pecar hoje eu estou bem. Mas se eu pecar eu perco minha salvação”. “Preciso andar na linha e me santificar senão Deus se afastará de mim”. “Droga! Hoje pisei na bola. Preciso confessar meu pecado aos meus irmãos, ao meu pastor, ao padre, etc, para que eu seja salvo novamente”. Isso beira a estupidez! Você não deve barganhar com Deus a sua salvação! Se você tem consciência da sua natureza então por que é que você confiaria em si mesmo para se manter salvo? Não faz nenhum sentido isso. Em outros casos a pessoa acha que perdeu a salvação dela na primeira dificuldade ou problema que enfrenta. Ou perde a salvação quando deixa de dar o dízimo, ou quando deixa de ir em algum culto (se for culto de ceia então faltar chega a ser um pecado imperdoável!), etc. Enfim, firmam sua salvação em bases feitas de areia, onde na primeira ventania tudo desmorona.

Contudo, se eu baseio a minha salvação em uma obra exclusiva de Deus, desta maneira meus pés encontram solo firme e inabalável. Pode alguma coisa ganha sem mérito ser perdida por demérito? Se eu não tinha mérito nenhum em mim mesmo para ser salvo não faz sentido Deus rifar a minha salvação, baseando ela nos meus méritos. Não é por obra nenhuma minha.

Qual é a rocha que devemos fundar a segurança da nossa salvação? São várias:

- É Deus quem muda o coração de pedra e transforma-o em um coração de carne, com o único propósito desse coração nunca se apartar dEle (Jr 32:40)

- O Espírito Santo é o selo e o penhor (uma garantia) da nossa herança para o grande Dia (Ef 1:13-14)

- Deus nos entregou nas mãos de Cristo, Aquele que promete que nós nunca pereceremos e ninguém pode retirar-nos das mãos dEle (Jo 10:28-30)

- A vontade de Deus é que nenhum daqueles que Ele entregou a Cristo se perca. E Cristo garante que ressuscitará estes no último dia (Jo 6:37-40)

- Em vários lugares Jesus diz ser o bom Pastor das suas ovelhas. Ele é a porta e ele é o porteiro do aprisco. Ninguém sai desse aprisco sem passar pelo pastor. Ainda que uma ovelha saia Ele deixa noventa e nove para trás e vai atrás dela, chama-a pelo nome e retorna alegremente com ela em seus ombros (Jo 10; Lc 15; Mt 18)

- Se morrermos em Cristo certamente ressuscitaremos com Ele. Assim como Cristo ressuscitou uma vez e não pode mais ser morto assim nós, se realmente ressuscitamos com Ele, não há como perecermos pois estamos nEle (Rm 6:6-7)

- Deus nos reconciliou com Ele em Cristo quando éramos inimigos dEle. Logo muito mais agora, estando já reconciliados, seremos poupados por Ele da ira (Rm 5:8-10)

- Nada pode nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus. Ninguém pode intentar qualquer acusação contra aquele que foi justificado por Cristo (Rm 8:31-39)

- Se eventualmente pecarmos temos um Advogado perante o Pai. Este Advogado é justo e Ele mesmo é a propiciação pelos nossos pecados. É sobre os atos dEle que será dada a sentença, e não sobre os nossos atos. (I Jo 2:1-2)

Esses trechos são bons fundamentos para você depositar a segurança da sua salvação. Perceba que a ênfase dada é para os atos de Deus e não para os seus atos. Poderia citar mais n referências que podem nos trazer segurança na salvação, pois as Escrituras estão cheias de passagens similares. Portanto creia que Deus é fiel para terminar a boa obra que começou em nós e não diminua o poder do sangue de Cristo que foi derramado na cruz em nosso favor.

· Para ter base na oração pelos perdidos
Devemos crer que Deus é suficiente para salvar para que possamos orar com uma base firme pelos perdidos. Não faz sentido eu orar para a salvação de uma pessoa se eu basear a salvação na aceitação desta pessoa, ou na fé dela, ou em qualquer coisa que ela possa produzir. Lembre-se que o ser humano caído não tem poder para se salvar ou mudar a sua natureza. Ao passo que se eu creio que Deus é o autor da salvação então creio que Ele é poderoso o suficiente para salvar, mudar o coração do perdido, trazer arrependimento ao mesmo e levá-lo a viver uma vida nos caminhos dEle. Creia nisso você também.

A IGREJA SEM A MENSAGEM DO ARREPENDIMENTO

Infelizmente a maioria das nossas igrejas têm ignorado por completo a mensagem do arrependimento. Creio que o maior motivo para isso é a tentativa de fazer com que o evangelho seja mais aceitável ao homem. Muitas de nossas igrejas estão mais preocupadas com o dinheiro, com o número de fiéis que frequentam ela, com status, etc. Por isso coisas como arrependimento, renúncia, ira de Deus, juízo eterno, fim das esperanças em nós mesmos, não somos tão bons quanto imaginamos, esses tipos de mensagens não agradam as pessoas e, por não trazer agrado, corremos o risco de perder membros ensinando coisas assim.

Essa tentativa de deixar o evengelho mais “digerível” faz com que seja pregado um evangelho totalmente deturpado, que seja ensinado algo que não é mais o verdadeiro evangelho e, por este motivo, não tem poder para salvar todo aquele que crê (Rm 1:16).
Perceba como nossas mensagens chamadas “evangelísticas “ não enfatizam em nada o arrependimento, mesmo eu tendo demonstrado que isso é fundamental para o ser humano não regenerado. Dentro da igreja a mensagem é que você pode ter a mesma mentalidade que tinha antes, mas crendo que existe um Deus que pode resolver todos os seus problemas, sanar suas dívidas, curar sua família e dar uma vida boa para você. Uma mensagem totalmente enraízada neste mundo, nesta vida terrena, totalmente aquém da eternidade. É lógico que o ser humano orgulhoso e egoísta vai querer aceitar esse falso evangelho. Quem não aceitaria um Jesus “legal prá caramba”, que promete fazer minha vida mais feliz e ainda conceder tudo aquilo que eu sempre quis e desejei?

Mas quando eu leio versículos como “aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”(João 3:36) eu sou obrigado a discordar de um Jesus que se alegra tanto assim em abençoar as pessoas. Lucas 20:9-18, assim como João 3:36, mostra um Deus completamente irado com a humanidade. Veja que em João é dito que aquele que não crê no Filho a ira de Deus sobre ele PERMANECE. Isso quer dizer que desde o momento em que você nasce Deus já está irado contigo e esta irá permanecerá a menos que você creia no Filho dEle. Lucas mostra que este Filho é o mesmo que foi morto mesmo depois que Deus enviou servos e mais servos para revelar a Sua vontade ao povo. Mas os homens espancaram esses servos. Até que Deus envia o próprio Filho, mas Ele é espancado até a morte pelos lavradores da vinha. E a passagem concluí-se da seguinte maneira: “Qualquer que cair sobre aquela pedra ficará em pedaços, e aquele sobre quem ela cair será feito em pó” (vs. 18). Vendo trechos assim você realmente consegue acreditar que Deus quer abençoar a todos? Você realmente acha que é esse tipo de mensagem que deve ser pregada e anunciada em nossos púlpitos? De maneira nenhuma! Deus está irado com a humanidade. A única coisa que mantem o braço do Senhor recolhido para não fulminar os povos é a misericórdia dEle. Portanto a única mensagem que deve ser pregada as pessoas é o arrependimento: “Deus está irado contigo, portanto arrependa-se”.

A tentativa de tornar o evangelho mais aceitável ao homem é tão estúpida quanto herética. A Bíblia claramente diz que o homem, no estado natural dele, está completamente cegado pelo deus deste mundo; tendo inclinação para a carne ele é um completo inimigo de Deus e não é sujeito a lei dEle e nem pode ser (Rm 8:7). I Co 2:14 diz que para o homem natural as coisas espirituais são loucura. Tentar apresentar o escandalo da cruz (Gl 5:11) como algo agradavél é uma negação ao evangelho. Nos preocupamos tanto em pregar um evangelho mais aceitável ao homem que acabamos por esquecer que a não aceitação do Evangelho pelas pessoas também faz parte do Evangelho. Uns crerão, outros não, mas a mensagem deve ser pregada na íntegra.

A consequência da negligência de doutrinas tão importantes das Escrituras (como arrependimento, total depravação, juízo eterno, ira de Deus, fé, ressurreição, etc.) é uma Igreja manca, inoperante e que nada pode fazer pelo mundo. Se as pessoas não ouvem que realmente são pecadoras e que são dignas de juízo eterno elas não verão necessidade de se arrependerem. Se não existe necessidade de arrependimento então não preciso ter fé que Jesus traz justificação para mim, uma vez que eu não tenho porquê ser justificado. E se a fé em Cristo é condição para a salvação logo as pessoas estão perecendo. Consegue ver a dimensão do problema?

Outra coisa que deve ser ressaltada: a falta da mensagem sobre arrependimento nos nossos púlpitos faz com que a Igreja se conforme com o mundo e ande de mão dada com ele. Paulo, em Romanos 12:2, diz que nós não deveriamos nos conformar com este mundo mas deveriamos ser transformados pela renovação das nossas mentes, para que assim possamos experimentar por completo a vontade de Deus. Lembre-se que arrependimento quer dizer mudança de mente. Logo o arrependimento traz essa renovação que faz com que sejamos transformados, que faz com que não andemos segundo os costumes do mundo e que experimentemos verdadeiramente a vontade de Deus. Mas o que temos visto é uma igreja que deseja as mesmas coisas que o mundo deseja: poder, riquezas, bens, saúde, etc. Ou seja, uma igreja com o coração focado apenas nas riquezas passageiras deste mundo, uma igreja que não deposita a sua confiança na eternidade, que prega sobre viver eternamente mas os seus atos falam muito mais alto que os seus lábios e a mensagem de ambos se opõem. Se realmente cressemos que esta vida é passageira e com tempo infinitamente menor se comparado a eternidade então não nos preocupariamos com coisas tão fúteis e banais (Cl 3:1-3).

Portanto paremos de arranjar desculpas para não pregarmos o verdadeiro evangelho, porque somente ele é poder de Deus para salvar todo aquele que crê, quer seja judeu, quer seja grego. (Rm 1:16)


Autor: Cláudio Neto
(Estudo ministrado na Igreja Agnus - Vila Carvalho - Sorocaba)