Esta é a oração de um homem chamado como testemunha perante as nações. Foi isto que ele disse ao Senhor no dia de sua ordenação. Depois de os presbíteros e ministros terem colocado as mãos sobre ele, retirou-se para encontrar seu Salvador num lugar secreto e em silêncio, bem além do ponto em que seus bem intencionados irmãos poderiam tê-lo levado.

Foram estas as suas palavras: Ó Senhor, ouvi a tua voz e fiquei com medo. Tu me chamaste para uma tarefa terrível numa hora grave e perigosa. Está prestes a sacudir todas as nações e a terra, assim como o céu, para que permaneçam as coisas que não podem ser abaladas. Ó Senhor, meu Senhor, Tu te aviltaste honrando-me como teu servo. Homem algum recebe esta honra salvo aquele que é chamado por Deus como Arão. Tu me ordenaste teu mensageiro para os duros de coração e difíceis de entendimento. Eles te rejeitaram, a ti, o Mestre, e não posso esperar que me recebam a mim, o servo.

Deus meu, não perderei tempo deplorando minha fraqueza nem minha incapacidade para a obra. A responsabilidade não é minha, mas tua, pois disseste: "Eu te conheci — te ordenei — te santifiquei", e também afirmaste: "Irás a todos a quem te enviar e dirás tudo aquilo que eu ordenar". Quem sou eu para argumentar contigo ou duvidar de sua soberana escolha? A decisão não me cabe, ela é só tua. Assim seja, Senhor. A tua vontade seja feita e não a minha.

Bem sei, Deus dos profetas e dos apóstolos, que enquanto eu te der honra tu me honrarás. Ajuda-me, pois, a fazer este voto solene de honrar-te em toda a minha vida futura e meu trabalho, na felicidade ou na desgraça, na vida ou na morte, e manter esse voto enquanto viver.

Está na hora, ó Deus, de entrares em ação, pois o inimigo invadiu as tuas pastagens e as ovelhas foram destroçadas e espalhadas. Os falsos pastores andam por toda parte, negando o perigo e rindo dos riscos que o teu rebanho corre. As ovelhas estão sendo enganadas por esses mercenários e os seguem com lealdade tocante enquanto o lobo se aproxima para matar e destruir. Suplico-te, ó Deus, dá-me olhos penetrantes para perceber a presença do inimigo; dá-me entendimento para observar e coragem para contar fielmente o que vejo. Torna minha voz tão idêntica à tua que até mesmo as ovelhas doentes a reconheçam e te sigam.

Senhor Jesus, aproximo-me de ti para receber preparo espiritual. Impõe sobre mim a tua mão. Unge-me com o óleo do profeta do Novo Testamento. Proíbe que me transforme num escriba religioso e perca assim meu chamado profético. Salva-me da maldição que paira sobre o clero moderno, a maldição da transigência, da imitação, do profissionalismo. Salva-me do erro de julgar uma igreja pelo seu tamanho, sua popularidade ou pelas somas que oferece anualmente. Ajuda-me a lembrar que sou um profeta — não um promotor, nem um administrador religioso, mas um profeta. Não permita que jamais me torne escravo da multidão. Cura minha alma das ambições carnais e salva-me da atração da publicidade. Livra-me da escravidão às coisas. Não permita que desperdice meus dias com trivialidades. Põe teu terror sobre mim, ó Deus, e leva-me para o lugar de oração onde possa lutar com os principados e potestades e com os senhores das trevas deste mundo. Livra-me de comer em excesso e dormir tarde. Ensina-me a autodisciplina para que possa ser um bom soldado de Cristo.

Aceito trabalho árduo e pequenas recompensas nesta vida. Não peço conforto. Procurarei não fazer uso das pequenas manipulações que facilitam a vida. Se outros procurarem o caminho mais suave, tentarei seguir o mais estreito sem julgá-los com demasiada severidade. Esperarei oposição e irei aceitá-la quando chegar. Ou, como algumas vezes acontece, se eu vier a receber presentes de agradecimento dados por pessoas bondosas, fica comigo então e livra-me do mal que geralmente se segue. Ensina-me a usar o que quer que receba de modo a não prejudicar minha alma nem diminuir meu poder espiritual. E, se em tua providência permissiva eu vier a receber honra através da tua igreja, não deixe que me esqueça nessa hora de que sou indigno da menor de tuas misericórdias, e que se alguém me conhecesse tão bem como eu me conheço essas honras não seriam concedidas ou seriam feitas a outros mais dignos de recebê-las. E agora, Senhor do céu e da terra, consagro o restante de meus dias a ti; sejam eles muitos ou poucos, conforme a tua vontade. Faze-me ficar diante dos grandes ou ministrar aos pobres e humildes; essa escolha não é minha e não iria influenciá-la mesmo que pudesse. Sou teu servo para fazer a tua vontade, e essa vontade é mais doce para mim do que posição, riqueza ou fama, e eu a prefiro acima de todas as coisas na terra ou no céu.

Embora escolhido por ti e honrado por um chamamento sublime e santo, não permita que eu jamais esqueça que não passo de pó e cinzas, um homem com todas as falhas e paixões naturais que perseguem a raça humana. Oro a ti, portanto, meu Senhor e Redentor, salva-me de mim mesmo e de todos os males que possa fazer a mim mesmo enquanto tento ser uma bênção para outros. Enche-me com o teu poder pelo Espírito Santo, e na tua força irei e anunciarei a tua justiça. Espalharei a mensagem do amor que redime enquanto tiver forças.

Então, Senhor, quando estiver velho e cansado, não mais podendo continuar, prepara um lugar para mim lá no alto, e permite que eu possa ser contado com os teus santos na glória eterna. Amém.


Autor: A. W. Tozer
Fonte: Extraído do livro "O Melhor de A. W. Tozer"




Vontade: é a causa imediata de todas as ações. É a faculdade de escolha. Em cada ato da vontade existe uma preferência. Quando não há preferência (mas indiferença), então não pode haver volição. Querer é escolher, e escolher é decidir entre alternativas. Mas há algo que influencia a escolha, algo que determina a decisão.

Se "algo" induz a vontade a fazer uma escolha, então esse "algo" tem de ser o agente causal. Quando a vontade "escolhe", ela leva em conta certas considerações, influências. Então, a volição nada mais é do que o efeito dessas considerações/influências.

Se a vontade é "serva" de tais considerações/influências, já não é soberana. E se não é soberana, não podemos atribuir "liberdade" absoluta e nem relativa. Os atos da vontade não podem se auto-produzirem. Não podem se produzir por si mesmos. Caso contrário, estaríamos assumindo um efeito sem causa

Sempre há algo que leva a vontade a fazer uma escolha. Sendo a vontade determinada, quem a determina? O que determina a vontade é uma poderosa força motivadora que se faz sentir sobre ela. Que motivação é essa? Ora, podem ser várias: a lógica do raciocínio, o impulso das emoções, a voz da consciência, o sussurro do tentador, o poder do Espírito Santo. Então, será a maior influência que impulsionará a vontade a agir. Portanto, nós sempre agimos influenciados ou pelo mundo, ou pela carne, ou pelo diabo, ou por Senhor Deus.

Se negarmos a causalidade, então assumiremos que a vontade é indeterminada. Sendo indeterminada, o que faz ela determinar uma ação? Como pode uma vontade ser espontânea começar uma ação? Se a vontade é neutra e não predeterminada para agir de um modo ou de outro, então o que faz com que ela aja? Se a vontade parte do neutro, como pode ela sair desse ponto morto? Se insistirmos que a vontade age livremente, mesmo com considerações/influências, então porque as considerações/influências são ainda necessárias? Seria melhor deixar a vontade autônoma decidir por si mesma, sem ser influenciado por alguém.

A vontade pode agir de modo totalmente livre ao dar expressão ao caráter interior. Ela é livre na medida em que ela expressa livremente nossa natureza sem ser autônoma. A vontade age de acordo com nossa personalidade. A vontade nunca é forçada a agir contra sua propria natureza. A isso chamamos de livre agência, a vontade externando quem nós somos. Ela jamais externaria algo que fosse estranho à nossa natureza.

Ora, a Bíblia nos informa que o coração é o centro dominante do ser. "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida" (Pv 4.23). "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios..." (Mc 7.21). Ora, os atos pecaminosos dos homens têm origem, não na vontade, mas no coração. Quando a vontade age, ela age por uma determinação. Neste caso, quem a determina é o coração. Logo, a vontade sendo serva do coração, jamais agirá diferente.

Falamos do "coração" como o âmago do ser humano. Isso tem a ver com o caráter do homem. O caráter do homem determina sua vontade. Imaginemos um pecador. Diante dele colocamos uma vida de piedade e uma vida de prazeres pecaminosos. Qual das alternativas ele escolherá? Respondo, a segunda. Ele a escolheu porque quis escolher ou foi influenciado? Se respondermos a primeira opção, então assumirem que ele igualmente poderia ter escolhido a segunda. Aí temos um problema: o pecador pode escolher ter uma vida de piedade? A Bíblia diz que não há quem faça o bem, nem um sequer!

Concluo esta parte dizendo que a vontade do homem age de acordo com a influência mais forte do momento. Ele não pode agir diferentemente.


Fonte: Blog dos Eleitos



Sem fazer-se anunciar e quase despercebida uma nova cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos tempos modernos. Ela se parece com a velha cruz, mas é diferente; as semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais.

Uma nova filosofia brotou desta nova cruz com respeito à vida cristã, e desta nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica – um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Este novo evangelismo emprega a mesma linguagem que o velho, mas o seu conteúdo não é o mesmo e sua ênfase difere da anterior.

A velha cruz não fazia aliança com o mundo. Para a carne orgulhosa de Adão ela significava o fim da jornada, executando a sentença imposta pela lei do Sinai. A nova cruz não se opõe à raça humana; pelo contrário, é sua amiga íntima e, se compreendermos bem, considera-a uma fonte de divertimento e gozo inocente. Ela deixa Adão viver sem qualquer interferência. Sua motivação na vida não se modifica; ela continua vivendo para seu próprio prazer, só que agora se deleita em entoar coros e a assistir filmes religiosos em lugar de cantar canções obcenas e tomar bebidas fortes. A ênfase continua sendo o prazer, embora a diversão se situe agora num plano moral mais elevado, caso não o seja intelectualmente.

A nova cruz encoraja uma abordagem evangelística nova e por completo diferente. O evangelista não exige a renúncia da velha vida antes que a nova possa ser recebida. Ele não prega contrastes mas semelhanças. Busca a chave para o interesse do público, mostranto que o cristianismo não faz exigências desagradáveis; mas, pelo contrário, oferece a mesma coisa que o mundo, somente num plano superior. O que quer que o mundo pecador esteja idolizando no momento é mostrado como sendo exatamente aquilo que o evangelho oferece, sendo que o produto religioso é melhor.

A nova cruz não mata o pecador, mas dá-lhe nova direção. Ela o faz engrenar em um modo de vida mais limpo e agradável, resguardando o seu respeito próprio. Para o arrogante ela diz: "Venha e mostre-se arrogante a favor de Cristo"; e declara ao egoísta: "Venha e vanglorie-se no Senhor". Para o que busca emoções, chama: "Venha e goze da emoção da fraternidade cristã". A mensagem de Cristo é manipulada na direção da moda corrente a fim de torná-la aceitável ao público.

A filosofia por trás disso pode ser sincera, mas na sua sinceridade não impede que seja falsa. É falsa por ser cega, interpretando erradamente todo o significado da cruz.

A velha cruz é um símbolo da morte. Ela representa o fim repentino e violento de um ser humano. O homem, na época romana, que tomou a sua cruz e seguiu pela estrada já se despedira de seus amigos. Ele não mais voltaria. Estava indo para seu fim. A cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava seu trabalho o homem já não existia.

A raça de Adão está sob sentença de morte. Não existe comutação de pena nem fuga. Deus não pode aprovar qualquer dos frutos do pecado, por mais inocentes ou belos que pareçam aos olhos humanos. Deus resgata o indivíduo, liquidando-o e depois ressucitando-o em novidade de vida.

O evangelismo que traça paralelos amigáveis entre os caminhos de Deus e os do homem é falso em relação à bíblia e cruel para a alma de seus ouvintes. A fé manifestada por Cristo não tem paralelo humano, ela divide o mundo. Ao nos aproximarmos de Cristo não elevamos nossa vida a um plano mais alto; mas a deixamos na cruz. A semente de trigo deve cair no solo e morrer.

Nós, os que pregamos o evangelho, não devemos julgar-nos agentes de relações públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não devemos imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos homens de negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos diplomatas mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo mas um ultimato.

Deus oferece vida, embora não se trate de um aperfeiçoamento da velha vida. A vida por Ele oferecida é um resultado da morte. Ela permanece sempre do outro lado da cruz. Quem quiser possuí-la deve passar pelo castigo. É preciso que repudie a si mesmo e concorde com a justa sentença de Deus contra ele.

O que isto significa para o indivíduo, o homem condenado quer encontrar vida em Cristo Jesus? Como esta teologia pode ser traduzida em termos de vida? É muito simples, ele deve arrepender-se e crer. Deve esquecer-se de seus pecados e depois esquecer-se de si mesmo. Ele não deve encobrir nada, defender nada, nem perdoar nada. Não deve procurar fazer acordos com Deus, mas inclinar a cabeça diante do golpe do desagrado severo de Deus e reconhecer que merece a morte.

Feito isto, ele deve contemplar com sincera confiança o salvador ressurreto e receber dEle vida, novo nascimento, purificação e poder. A cruz que terminou a vida terrena de Jesus põe agora um fim no pecador; e o poder que levantou Cristo dentre os mortos agora o levanta para uma nova vida com Cristo.

Para quem quer que deseje fazer objeções a este conceito ou considerá-lo apenas como um aspecto estreito e particular da verdade, quero afirmar que Deus colocou o seu selo de aprovação sobre esta mensagem desde os dias de Paulo até hoje. Quer declarado ou não nessas exatas palavras, este foi o conteúdo de toda pregação que trouxe vida e poder ao mundo através dos séculos. Os místicos, os reformadores, os reavivalistas, todos colocaram aí a sua ênfase, e sinais, prodígios e poderosas operações do Espírito Santo deram testemunho da operação divina.

Ousaremos nós, os herdeiros de tal legado de poder, manipular a verdade? Ousaremos nós com nossos lápis grossos apagar as linhas do desenho ou alterar o padrão que nos foi mostrado no Monte? Que Deus não permita! Vamos pregar a velha cruz e conhecermos o velho poder.


Autor: A. W. Tozer
Fonte: O Melhor de A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão, pg 151 a 153.



Uma mulher chega apavorada no consultório de seu ginecologista e diz:

- Doutor, o senhor terá que me ajudar num problema muito sério. Este meu bebê ainda não completou um ano e já estou grávida novamente. Não quero filhos em tão curto espaço de tempo, mas num espaço grande entre um e outro...

O médico então perguntou:

- Muito bem. O que a senhora quer que eu faça?

A mulher respondeu:

- Desejo interromper esta gravidez e conto com a sua ajuda.


O médico então pensou um pouco e depois de algum tempo em silêncio disse para a mulher:

- Acho que tenho um método melhor para solucionar o problema. E é menos perigoso para a senhora. A mulher sorriu, acreditando que o médico aceitaria seu pedido. Ele então completou:

- Veja bem minha senhora, para não ter que ficar com dois bebês de uma vez, em tão curto espaço de tempo, vamos matar este que está em seus braços. Assim, a senhora poderá descansar para ter o outro, terá um período de descanso até o outro nascer. Se vamos matar, não há diferença entre um e outro. Até porque sacrificar este que a senhora tem nos braços é mais fácil, pois a senhora não correrá nenhum risco...

A mulher apavorou-se e disse:

- Não doutor! Que horror! Matar um criança é um crime.


- Também acho minha senhora, - concordou o médico - mas você me pareceu tão convencida disso, que por um momento pensei em ajudá-la.

O médico sorriu e, depois de algumas considerações, viu que a sua lição surtira efeito. Convenceu a mãe que não há menor diferença entre matar a criança que nasceu e matar uma ainda por nascer, mas já viva no seio materno.

O crime é exatamente o mesmo!!!!!


Fonte: O Blog dos Eleitos



O interior de um hipócrita nunca corresponde ao seu exterior. O interior de um hipócrita é uma coisa, e seu exterior é outra coisa; um hipócrita é exteriormente limpo mas interiormente impuro. Hipócritas são como os frascos dos farmacêuticos, tendo por fora o título de algum excelente remédio mas por dentro algum veneno mortal. Eles são como os templos egípcios, que são belos por fora mas dentro deles nada se encontra além de serpentes e crocodilos, e outras criaturas venenosas.

Hipócritas laboram mais em prol de um bom nome do que de um bom coração; uma boa repercussão dos seus feitos do que uma boa consciência; eles são como violinistas, mais cuidadosos em afinar seus instrumentos do que em vigiar suas almas. Hipócritas são como prata porém escurecem; eles possuem uma aparente santificação externa mas interiormente são cheios de malícia, mundanismo, orgulho, inveja, etc. São como almofadas de sofá, feitas de veludo e ricamente bordadas mas cujo interior é cheio de feno.

Um hipócrita pode oferecer sacrifício com Caim, correr com Jezabel, se humilhar com Acabe, chorar com as lágrimas de Esaú, beijar Cristo com Judas, seguir a Cristo com Demas, e aparentar compromisso com Simão Mago; e ainda com tudo isto seu interior é tão mau quanto qualquer um deles. Um hipócrita é um Jacó por fora e um Esaú por dentro; um Davi por fora e um Saul por dentro; um Pedro por fora e um Judas por dentro; um santo por fora e um Satanás por dentro; um anjo por fora e um demônio por dentro. Um hipócrita é um Judeu exteriormente mas um ateu, um pagão, um infiel interiormente.

Li sobre certas estátuas, assemelhando-se a Júpiter e Netuno, que por fora eram cobertas com ouro e pérola mas por dentro não tinham outra coisa senão aranhas e teias de aranha; a comparação perfeita com os hipócritas. Aquele monge acertou quando disse: “Mostrar ser um monge de forma externa foi fácil mas ser, de fato, um monge, interiormente, foi difícil.” Mostrar ser um cristão de forma externa é fácil mas ser, de fato, um cristão, interiormente, é muito difícil. O interior de um hipócrita nunca reflete ou corresponde ao seu interior; seu interior é perverso, e seu exterior é piedoso. Mas que todos os hipócritas saibam: fingir santidade é duplamente iníquo, e ao fim terão de responder por isto.


Fonte: O Caminho Cristão
Via: Bereianos



Um conceito bastante difundido através dos púlpitos é o de que Cristo foi tolerante para com os seus contemporâneos. Não podemos concordar com este pensamento, visto ser ele um conceito falso e antibíblico. O fato de Cristo ter tido paciência com os pecadores, com os seus próprios algozes, não significa tolerância para com o pecado.

Afirmamos categoricamente que Cristo, à luz da Bíblia, não foi tolerante com relação ao pecado. O que vemos hoje em dia é uma mensagem de tolerância religiosa com relação àquilo que Cristo mais combateu enquanto esteve na terra. Os que pregam a tolerância estão procurando um meio de acomodar às circunstâncias ou estão procurando, em linguagem psicológica, compensação à falta de coragem para agir em relação aos problemas da igreja. Como resultado disso, pregam a tolerância e deixam as coisas como estão.

Isso soa como um abandono dos deveres e da responsabilidade. Os adeptos da tolerância religiosa fogem da responsabilidade de punir o pecador, afirmando que o próprio Deus é quem irá discipliná-lo. Vemos nas Sagradas Escrituras que Cristo foi sempre enérgico e intransigente para com o pecado. Cristo também não foi tolerante com as heresias do seu tempo. Os pecados e as heresias sempre foram os alvos da intolerância de Cristo.

Admitir a tolerância em Cristo para com o pecado e para com as heresias, é negar a Sua perfeição. Isso faz de Cristo um ser imperfeito, pois, quem tolera o erro se torna cúmplice do mesmo. Cristo sempre age de acordo com o caráter divino. Ele não é contraditório.

Desde o começo da história Deus foi intransigente quanto ao pecado.Quando nossos primeiros pais pecaram, transgredindo o preceito divino lá no Éden, Deus não os poupou. Eles receberam imediatamente a sanção divina. Foram expulsos. Isso mostra que Deus promulgou a lei para ser cumprida e não para ficar apenas no papel. A Sua justiça divina exige a punição do transgressor.

Vemos, mas uma vez, a intransigência divina contra o pecado ao enviar o dilúvio sobre a terra para a destruição total dos desobedientes. Vemos isso também na Sua relação com o povo de Israel, com Davi e, como não poderíamos esquecer, com Jonas.

Afirmar que Cristo foi tolerante é desconhecer a Bíblia e, principalmente, os evangelhos. O Mestre foi enérgico no Seu tratamento com o apóstolo Pedro, censurando-o (Mt 16.21-23). No caso da purificação do templo, que todos nós conhecemos, Cristo parece que não foi muito educado (Mt 21.12,13; Mc 11.15-17). Cristo expulsou todos os comerciantes que vendiam suas mercadorias no templo. Derrubou suas mesas e as cadeiras. Será que para os pregadores da tolerância, Cristo seria um ranzinza, ou um impiedoso? Pregar a tolerância e tomar Cristo como exemplo é uma verdadeira disparidade e uma fuga da realidade.

O tratamento de Cristo para com os fariseus contradiz os senhores “mensageiros” da tolerância. Em Mateus 23 vemos Jesus censurando energicamente os escribas e fariseus. Jesus os chama de hipócritas, guias cegos, insensatos, serpentes e raças de víboras. Me digam onde está a tolerância de Cristo neste capítulo?

Em mais uma ocasião onde Jesus confronta os fariseus, Ele usa expressões bastante fortes em João 8.44:


Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.


Mas nem tudo é intolerância. Há um tipo de tolerância que encontramos em Cristo. Isso está relacionada com a paciência de Cristo para com o pecador sem compartilhar, no entanto, com os seus pecados. Cristo, quando estava agonizando na cruz, não odiou seus algozes, mas orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Jo 23.34). Paciência com pecador não implica em tolerância para com o seu pecado.

Ao contrário do ensinamento de Cristo, as igrejas evangélicas de hoje estão tolerando demais o pecado. As igrejas estão tolerando as imoralidades praticadas dentro das próprias igrejas. Recentemente (novembro/2009), dois “pastores”, Marcos Gladstone e Fábio Inácio, fundadores de uma igreja “evangélica”, a Igreja Contemporânea, criada no Rio de Janeiro há três anos e que já conta com 500 membros. Antes, em 2007, o “pastor” Gladstone já havia celebrado um casamento gay entre um ex-pastor da Igreja Universal, Eduardo Silva, e Paullo Oliveira, filho de um dos mais conhecidos pastores da Assembléia de Deus de Madureira, no Rio. Já na Europa, a Igreja Luterana da Suécia tem a primeira bispa abertamente lésbica ordenada recentemente, em novembro de 2009. Citei estes exemplos porque são os mais recentes e um dos mais condenáveis aos olhos de Deus (Rm 1.18-32).

A tolerância, à luz da Bíblia, consiste em não sermos precipitados no exercício da disciplina, mas em dar oportunidade ao pecador, para que se arrependa. Mas esta oportunidade deve vir acompanhada de uma advertência energética contra o seu pecado. É preciso que ele sinta a sua culpa e para isso, é preciso ser chamado à advertência. Mas não é isso que acontece na igreja evangélica brasileira de hoje.

Há muita tolerância a determinados indivíduos que são bastantes simpáticos, e muita intolerância aos que não nos são agradáveis. São bonzinhos demais para com os que vão com a cara; e maldosos demais para com aqueles que não vão com a cara.

É um pecado tolerar as heresias e as imoralidades dentro da igreja. A paciência de muitos se transformou em relaxamento. Não existe liberdade, mas libertinagem. Será que a própria existência do modernismo teológico já não é uma conseqüência da tolerância? Dizer que um determinado indivíduo é bom, quando é sabido por todos que ele é mau, é incentivar o pecado e abrir as portas para a sua proliferação.

Cristo ensinou a perdoar. Todos nós devemos ter o espírito de perdão. Mas isso não significa tolerar o erro. Tolerando o erro, a igreja se enfraquece. Não podemos permitir pregações desse calibre em nossos púlpitos. Precisamos ter a natureza intransigente e sermos fechados em relação a qualquer atitude que enfraqueça nossa posição doutrinária tradicional. Precisamos exigir dos nossos seminários ministros com mais qualidade e com pensamento de combater as heresias e as imoralidade que, insistentemente, entram nas igrejas.

Você sabe como reconhecer um herege? Existe uma dica, entre várias existentes, que faz abrir nossos olhos (e ouvidos) para reconhecê-los e quem dá esta dica é James I. Packer:


“Os hereges não chamam as pessoas para se arrependerem de seus pecados. Tudo que você precisa para ser um herege é: acomodar o pecado, tolerar o pecado, abençoar o pecado, sancionar o pecado, desculpar o pecado, não se opor ao pecado. A primeira palavra do evangelho é arrependam-se”.


O pecado é muito grave. Tão grave que matou o nosso Senhor Jesus Cristo. Quem não reconhece a gravidade do seu pecado, ou de qualquer pessoa, mostra a sua irrelevância na morte de Cristo. É como se Ele tivesse morrido por algo pequeno demais.

Ensinar a não punição do erro é ir contra a justiça divina e fazer de Jesus um acariciador do pecado. Portanto, o conceito de que Cristo foi tolerante é falso e antibíblico.

Soli Deo Gloria


Autor: Heitor Alves
Fonte: Blog dos Eleitos



"Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos." (2 Timóteo 1.6)

Timóteo recebeu “o dom de Deus” quando Paulo impôs suas mãos sobre ele. Isso refere-se ao mesmo incidente mencionado em 1 Timóteo 4.14, onde é dito que um corpo de presbíteros impôs as mãos sobre Timóteo (em cujo caso Paulo teria sido um dos presbíteros), ou a um evento separado no qual apenas Paulo impôs as mãos sobre ele. Não existe nenhuma evidência bíblica para sugerir que a imposição de mãos, mesmo quando dons espirituais são conferidos, está reservada para a ordenação formal praticada hoje. Todavia, certo teólogo iguala o que Paulo descreve aqui com a ordenação formal de nossas denominações. Então, ele observa que a ordenação não é um reconhecimento de dons já presentes, mas uma concessão de dons não possuídos anteriormente. E, adiciona, esse dom é a autoridade para pregar.

Todos os três pontos são errados ou enganosos.

Primeiro, há evidência bíblica insuficiente para estabelecer a teoria de ordenação afirmada pelas denominações hoje. De fato, há evidência bíblica insuficiente para estabelecer as próprias denominações formais. Havia ordem na igreja, crentes trabalhando juntos em acordo, e conferências de presbíteros para discutir questões doutrinárias, mas tudo isso não se traduz numa instituição elaborada governada por concílios regionais e nacionais. Se um grupo de crentes decide se unir dessa maneira para fornecer apoio e prestação de contas mútuas como uma questão de vantagem e conveniência prática, não me oponho a isso. Contudo, seria errado eles desprezarem, criticarem ou de alguma forma pensar menos de cristãos que agem de acordo com os princípios bíblicos, mas diferem deles em detalhes não definidos ou restringidos por princípios bíblicos. Os princípios bíblicos para o governo da igreja são ricos, claros e inflexíveis, mas permitem muita liberdade nos detalhes, e simplesmente não requerem uma estrutura denominacional, ou muitas das teorias e práticas assumidas hoje. Se você impõe seus próprios princípios de governo eclesiástico sobre outros quando a Escritura não ensina ou os requer, então você está seguindo o exemplo dos fariseus, no fato de você alegar proteger a ordem prescrita da igreja, quando está na verdade protegendo tradições inventadas por homens.

Segundo, é enganoso dizer que a ordenação não é um reconhecimento de dons já presentes, mas uma concessão de dons não possuídos anteriormente. Essa é uma inferência muito ampla a partir de um versículo limitado e específico. De acordo com a Bíblia, Deus concede dons espirituais de diferentes formas. Algumas vezes eles são dados diretamente, sem nenhuma agência humana. Outras vezes são dados em resposta à oração. Por exemplo, Paulo diz que a pessoa que fala em línguas deve orar para que possa interpretá-las. Então, algumas vezes eles são dados por meio de agentes humanos, como quando os presbíteros e Paulo impuseram suas mãos sobre Timóteo. O que chamamos ordenação é um reconhecimento público do chamado. O chamado já existe, quer a igreja o reconheça ou não. Os dons espirituais sempre seguem o chamado. Eles apoiam o chamado da pessoa, e o capacitam a cumpri-lo. Mas os dons nem sempre são concedidos através da ordenação, nem o reconhecimento do chamado pela igreja é sempre necessário. E se Deus chama alguém para repreender a igreja ou se opor a uma denominação? Quem o ordenou então? Ou isso nunca acontece? Qual é a evidência bíblica que torna nossas denominações e seu reconhecimento formal algo necessário? Não existe nenhum princípio rígido de ordenação na Bíblia. Isso é uma questão de ordem eclesiástica. Algumas vezes Deus a usa, outras não. Deus ainda é Deus. Quer a política da nossa igreja permita Deus ser Deus ou não, ele ainda pode fazer o que quiser.

Teólogos frequentemente afirmam doutrinas que restringem as práticas corretas àquelas já afirmadas por suas denominações. Eles começam a partir da Bíblia, então adicionam suas tradições a ela, e o resultado são as políticas denominacionais, que eles afirmam ser a pura doutrina escriturística e criticam aqueles que discordam. Mas o ensino da Bíblia deixa espaço para a soberania de Deus, muita variedade, e a liberdade para adaptar. Os cristãos poderiam aceitar a ordem eclesiástica prescrita por suas tradições como uma questão de conveniência prática, mas uma vez que se torna mais que isso – uma vez que se torna uma doutrina formal que define o certo e o errado – eles deveriam se rebelar contra ela. Que ninguém te roube da liberdade que Cristo comprou para você. Ai da denominação cuja rebelião contra o evangelho está na ordem e política da igreja.

Terceiro, quanto à autoridade para pregar, isso pelo menos precisa ser esclarecido. A Bíblia ensina que todos os cristãos são sacerdotes em Cristo (Apocalipse 1.6). E visto que todos somos sacerdotes, a implicação irresistível é que todos os cristãos podem pregar e administrar a ceia e o batismo. A coisa curiosa é que nem todas as igrejas e denominações que admitem o primeiro (que todos os crentes são sacerdotes) irão ao mesmo tempo reconhecer o último (que todos podem pregar e administrar as ordenanças sagradas). Isso acontece porque as pessoas nessas igrejas e denominações são hipócritas. Eles dizem o que dizem para distingui-los dos católicos, mas então praticam a mesma coisa em suas congregações. O Novo Testamento de fato ensina que deve haver líderes dentro das congregações, e como uma questão de ordem eclesiástica, eles são geralmente aqueles que pregam e administram a ceia e o batismo. Isso é para manter a excelência na atividade da igreja e para impedir o caos e a confusão. Contudo, outros cristãos não estão impedidos dessas coisas como uma questão de doutrina e princípio.

Deus é maior que nossas tradições e nossas denominações. Muitíssimas pessoas dizem que creem nisso, mas negam em suas doutrinas e práticas. Se Deus quer ordenar a alguém, ele na verdade não precisa de nenhuma aprovação ou reconhecimento humano. Ele frequentemente arranja o reconhecimento humano para manter a boa ordem, mas nada na Escritura indica que isso deva acontecer ou que deva acontecer de determinada forma. Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. Não devemos permitir algo em nossa política eclesiástica que pareça negar isso.

Se Deus quer entregar suas palavras ou suas bênçãos por meio de homens, isso é direito seu. Mas se Deus deseja entregar essas diretamente, não cabe à igreja proibi-lo. A igreja é uma comunidade de pessoas individualmente redimidas e chamadas por Deus. Ele arranja pessoas para crerem no evangelho pelo ministério de agentes humanos, tal como a pregação de um pastor ou membro de uma igreja particular. Ele faz isso por inúmeras razões, tais como a ordem estabelecida, a comunidade e os relacionamentos entre os homens, e para exercitar e recompensar aqueles que pregam. Mas Deus não precisa de agentes humanos mesmo quando diz respeito à pregação do evangelho, e não devemos ressentir ou rejeitar alguém se ele recebe algo da parte de Deus sem nossa mediação.

Se você teme que isso levaria ao caos, então isso mostra que você adotou grandemente a mentalidade dos fariseus e católicos. Essa é a mentalidade que pensa que precisamos usar tradições humanas para reforçar os preceitos divinos, e isso removendo-se a liberdade que a revelação divina permite, incluindo a liberdade que Deus reserva para si. Se alguém se converte à fé cristã ou possui um ministério à parte do nosso controle, sua fé e ministério ainda estão sujeitos à palavra de Deus, e podem ser testadas pela palavra de Deus. E essa é a única base legítima para testar sua conversão ou chamado ao ministério. Ele não tem nenhuma obrigação de responder ou se submeter a tradições humanas que não prometeu cumprir. E se essas tradições violam a palavra de Deus, ele tem obrigação de romper com elas.

Pode ser verdade que a igreja está em tempos difíceis. Muitas pessoas estão se afastando das congregações locais, e as falsas doutrinas abundam. Contudo, a resposta não é uma teologia de controle por meio de tradições feitas por homens, mas uma teologia de liberdade em Cristo. Que Cristo atraia o povo que ele escolheu e chamou! Quanto aos cristãos, eles são responsáveis perante Cristo, não as tradições humanas. Portanto, desafie-as quando apropriado e necessário. É frequentemente aceitável se submeter a costumes humanos em prol do amor e da ordem, mas não porque seja requerido de você como uma questão de princípio.

Marcos 9 nos diz que um homem estava expulsando demônios em nome de Jesus, mas os discípulos disseram-lhe para parar de fazê-lo por não ser um deles. Jesus respondeu: “Não o impeçam. Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor”. Quem ordenou a essa pessoa? Por mãos de quem Deus conferiu dons espirituais a esse homem? Nem mesmo Jesus na Terra fez isso. Mas Deus no céu o fez, e aparentemente sem qualquer agência ou aprovação humana. Como observa um estudioso do Novo Testamento, o próprio Jesus não teve sanção humana oficial para o seu ministério. As tradições humanas são frequentemente tão perigosas quanto as ameaças à ordem que elas procuram eliminar. E eles frequentemente se afastam da ortodoxia que alegam proteger, ao ponto que até mesmo ordenariam o assassinato do próprio Filho de Deus. Todos os cristãos devem ser livres para servir a Deus, sob as diretrizes estritas, mas algumas vezes amplas, da Palavra de Deus, e não das restrições de tradições humanas.


Autor: Vincent Cheung
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Fonte: Reflections on Second Timothy
Via: Monergismo



É válido casar simplesmente no civil? Ou é necessário casamento religioso para confirmar o civil?

Casamento é uma ordenança da criação, não uma ordenança de culto (a palavra refere-se a uma forma de adoração, não sendo necessariamente negativa). Ele difere fundamentalmente de algo como o batismo e a comunhão.

Ora, batismo e comunhão precisam estar associados ao culto apropriado. Por essa razão, o batismo e a comunhão católica não contam. Se bem me recordo, Calvino apontou que uma pessoa que foi batizada no catolicismo-romano não precisaria ser batizada novamente. Eu discordo disso. Essa pessoa jamais foi batizada. Um mórmon ou budista pode lançar um balde de água sobre mim, mas isso não corresponderá a um batismo cristão. Eu nego que católicos sejam cristãos; portanto, nego que o batismo católico seja batismo cristão. Assim, me oponho neste ponto a muitos reformados e demais cristãos.

Também, os reformados até mesmo registraram em algumas de suas confissões que somente pessoas devidamente ordenadas poderiam batizar ou servir a santa ceia. Trata-se de uma grande bobagem. Não existe base bíblica para isso. Antes, a Bíblia diz que todos os cristãos são sacerdotes em Cristo; já que somos sacerdotes, e por também não existir qualquer exceção explícita a isso, até mesmo uma criança ou mulher cristã podem em princípio servir a ceia, assim como uma criança ou mulher podem ensinar e pregar a palavra de Deus. A única proibição a elas é autoridade oficial na igreja. É uma grande diferença. Por questão de ordem na igreja, alguns indivíduos, mais provavelmente ministros, são designados a batizar e servir a ceia, mas isso não significa que somente eles podem fazê-lo. É uma negação direta do sacerdócio de todos os crentes restringir funções sacerdotais a ministros ordenados ― como se houvesse uma elite entre os crentes, que é precisamente aquilo a que os reformados dizem se opor.

Casamento é diferente, pois ele não está associado a qualquer culto. Antes, o que “faz” um casamento é o acordo entre um homem e uma mulher de constituir esse tipo de relacionamento. Deus é a única testemunha necessária, sendo ele testemunha de todo casamento, seja Deus explicitamente considerado ou não. O primeiro casamento não teve o testemunho de terceiros. Não existia Estado nem igreja ― a não ser que usemos a palavra “igreja” de forma tão vaga que Adão e Eva tenham contado como igreja, mas ainda perceberemos uma diferença, já que não houve culto formal. Assim, Estado e igreja não podem criar nem destruir um casamento ― o relacionamento não tem relação necessária com essas coisas, mas é constituído somente entre homem e mulher. O Estado e a igreja podem apenas reconhecer o acordo entre o homem e a mulher. A igreja deve ser especialmente cuidadosa com relação a isso ― ela não tem um poder místico para constituir a união, e por isso não deve reivindicá-lo.

A implicação é consistente com o que (espero!) a maior parte das pessoas já sabe. Reconhecemos que casais não cristãos estão de fato casados, não importando como tenha se dado esse casamento. Se as duas pessoas dizem que estão casadas, acreditamos que estão casadas; e poderíamos esperar delas um comportamento de pessoas casadas, aplicando-se assim todas as proibições contra o adultério, bem como a liderança masculina, a submissão feminina, e assim por diante. Se o homem fugisse com outra mulher e se casasse ela, não iríamos encolher os ombros e dizer “Bem, na verdade ele era solteiro, e por isso não fez nada de errado”. Não, iríamos dizer que ele já estava casado, e por isso cometeu adultério e poligamia. Em outras palavras, não importa se um casal realizou matrimônio por uma igreja, pelo Estado ou mesmo por uma cerimônia vodu ― se eles concordam que estão casados, eles estão casados. A cerimônia é apenas uma formalidade acrescentada ao acordo matrimonial “real”. É claro, a Bíblia registra cerimônias de casamento, mas como história, e não como um ensino doutrinário que essas cerimônias seriam necessárias para se fazer um casamento. O que DEUS uniu, não separe o homem ― o homem não tem poder de fazer nem um, nem outro.

Cristãos consideram o casamento como especial e espiritual. Eu concordo. Mas isso não justifica a tentação de transformá-lo em algo que ele não é. Ele não é um sacramento. É um acordo instituído na criação, não um culto. Reservar algum poder especial à igreja para “fazer” uma união matrimonial é pensamento católico. É atitude muito hipócrita protestantes, especialmente os reformados, discordarem do que estou dizendo aqui.

Para resumir, nenhuma cerimônia humana que vá além do acordo entre o casal é estritamente necessária. Todavia, quando vivemos numa sociedade, existem frequentemente cerimônias e condutas vinculadas a esse acordo matrimonial básico, de modo que ele pode ser reconhecido nessa sociedade, podendo o casal então agir como uma unidade conjugal. É por isso que fazemos registro no governo, etc. O casamento civil é aceitável porque nenhum Estado ou igreja de fato realizam o casamento.

Imagino que muitos cristãos ficariam desconfortáveis com o que estou dizendo aqui, mas está tudo baseado em tradições humanas. Tenha você apenas em mente que essa doutrina não torna o casamento algo mais livre, mas sim algo mais rigoroso. Estamos dizendo que Deus exige responsabilidade de todo casamento, não apenas dos realizados numa igreja. Ele exige que todos os casamentos não cristãos sejam submetidos a padrões bíblicos, e é claro, essas pessoas jamais podem viver à altura desse padrão.

No plano pessoal, você deve reservar um tempo para definir a questão com base na palavra de Deus, e não na tradição humana, de modo que sua consciência fique alinhada com a verdade. E assim você será livre para agir de forma confiante e honrada.


Autor: Vincent Cheung
Tradução: Marcelo Herberts
Fonte: Monergismo