Aproveitei a tranquilidade deste final de semana para ir com uns amigos até Itu, cidade vizinha aqui de Sorocaba, assistir o tão falado filme "Avatar" em 3D. Depois de ter enfrentado muita chuva, ruas interditadas por causa dos alagamentos, em alguns casos entrar na contramão mesmo (era isso ou ficar ilhado em algum canteiro...) e quase arrebentar uma faixa de bloqueio colocada em uma rua de tráfego impossível finalmente chegamos ao cinema.

De tanto que eu ouvi falar sobre o filme acabei criando uma grande expectativa com relação a ele. Vou escrever rapidamente sobre a história do filme. Atenção, alerta de spoiler. Se você ainda não assistiu ao filme e não quer perder a surpresa da história então resista a tentação e pare de ler este post hehehe. O filme retrata a história de Jake Sully, um ex-fuzileiro naval paraplégico, que viaja para um lugar chamado Pandora, uma das luas de Polifemo, onde os humanos instalaram uma estação com a intenção de extrair recursos que poderão ser a solução da crise de energia na Terra. Este lugar é habitado por uma raça de humanóides chamada Na'vi, seres azuis que vivem em completa harmonia com a natureza (controlada pela deusa Eywa, adorada pelos Na'vis).

Como a atmosfera de Pandora é tóxica para os seres humanos, um grupo de cientistas, liderados pela doutora Grace, cria seres geneticamente modificados, chamados de Avatars, que possuem a aparência dos Na'vis e são controlados pelos homens por conexões neurais. Aí que entra Jake, que controlará um Avatar no lugar de seu irmão gêmeo, morto em combate. Jake, que rapidamente consegue o controle total do Avatar, inclusive voltando a andar, é mandado em uma missão de exploração. Durante a missão ele é atacado por uma criatura (parecida com um besouro gigante), se perde do seu grupo e acaba sendo salvo pela Na'vi Neytiri. Neste momento começa a conexão dos dois e Jake conhece a cultura dos Na'vi, se apaixonando por Neytiri, pelo seu mundo e pelo seus costumes. E assim a história se desenrola...

Sinceramente falando eu gostei do filme. A primeira coisa que qualquer um consegue notar é o maravilhoso trabalho gráfico realizado no longa. Os efeitos de luz, a mistura da realidade dos humanos com o exuberante mundo dos Na'vis e os efeitos em três dimensões fizeram do filme uma pintura para os olhos. Várias vezes eu olhava para aquele mundo saltando em cima de mim através dos óculos de visão 3D e pensava: "isso que foi criado por uma mente humana limitada em sabedoria e morta pelo pecado já é incrível. Imagine o que Deus, no seu infinito poder e sabedoria, reserva para o novo céu e a nova terra (Ap 21, 1)". Sem dúvida será inimaginável.

Mas este não foi o único momento em que lembrei do evangelho enquanto assistia ao filme. Tudo bem que alguns amigos meus dizem que eu vejo evangelho em tudo (claro que isso é um exagero deles hehehe) mas não tem como negar que existem muitas referências a ele em Avatar. Ver a conexão entre os moradores de Pandora com os animais me fez lembrar do domínio inicial que o homem possuía sobre a natureza (Gn 1, 28). Em um momento do filme, quando Jake passa por um ritual de aceitação, é citado que para os Na'vis existem dois nascimentos: o natural e o nascimento como Na'vi, que se dá após o ritual. Facilmente consegui ligar isso com o nosso nascimento natural e o novo nascimento (Jo 3, 3-7). Este ritual é finalizado quando todos os Na'vis unem-se pelos braços no "novo nascido" de forma a mostrar a união do grupo, algo que podemos comparar com a nossa inserção no corpo de Cristo, onde existem vários membros mas o corpo é um só (I Co 12, 12). Tem também as vezes que o coronel Miles fala sobre a promessa de devolver os movimentos às pernas de Jake desde que ele trabalhe para os homens, algo muito similar as tentações do mundo e ao que Satanás faz para tentar nos trazer para o lado dele (ver a tentação de Jesus em Lucas 4). Por Jake recusar a oferta do coronel no final do filme ele não apenas voltou a andar como se tornou um dos Na'vis, ganhando seu novo corpo (muito melhor que o corpo anteriormente paraplégico) de forma definitiva. Conseguiu assimilar com a idéia de um novo corpo, sem corrupção, quando chegarmos ao grande dia (Fp 3, 20-21)?

Contudo nem tudo no filme é tão cristão assim. Existe uma imensa e visível apologia ao Panteísmo no filme. Para quem não sabe "panteísmo" deriva da soma de duas palavras em grego: pan, tudo e theo, deus. É a crença que diz que Deus (ou deuses) está em tudo e é representado pelos elementos da natureza e de todo o universo. A idéia é que não existe um Deus criador mas sim tudo é uma manifestação de um deus ou de vários deuses. Resumindo: Deus é o universo. O ápice deste pensamento no filme ocorre quando os Na'vis e o próprio Jake oram e fazem petições a deusa Eywa, que corresponde a uma rede de energia que engloba todas as coisas vivas. Apesar do nome "panteísmo" ser estranho para muitos o que não podemos negar é que essa adoração a natureza é cada vez mais comum entre nós. Nesta época de evolução tecnológica, aquecimento global, desmatamentos, etc., é fácil para o homem se prender a natureza como forma de demonstrar o seu mal-estar com relação a destruição da mesma. Outro motivo é a substancialização da fé. É bem mais fácil ver um Deus nas coisas criadas do que acreditar num Deus que só é visível pela fé.

Apesar de ser algo cada vez mais comum nos nossos dias, o panteísmo não é uma coisa nova. Quando Paulo fala que nenhuma pessoa poderá dar qualquer desculpa por não ter acreditado na existência de Deus ele usa justamente a criação da natureza como argumento (Rm 1, a partir do verso 19). Mas o homem, ao invés de ver a natureza como uma revelação da pessoa de Deus, prefere mudar a glória do Deus incorruptível e prestar adoração as criaturas e não ao Criador. E isto é motivo de condenação para qualquer um.

Outro detalhe que deve ser ressaltado: não é muito difícil encontrar na internet relatos de pessoas que entraram em estado de depressão depois de assistir ao filme. Cheguei a ler sobre um jovem que achou tão mágico o mundo de Pandora em comparação ao nosso mundo que cogitou a possibilidade de suicídio, na esperança de que exista uma Pandora em uma próxima vida (clique aqui). As pessoas não tem a mesma esperança que nós cristãos temos de um novo céu e uma nova terra. A beleza de Pandora, que para mim serviu como um incentivo para lembrar das promessas eternas de Deus, age de forma contrária em muitos que apenas vivem para este mundo. E o filme acaba por não dar nenhuma esperança as pessoas. Ao contrário disto, ele pode é frustrar as pessoas, uma vez que a solução para o problema no mundo está em um lugar que não existe para os humanos (Pandora).

Poderia citar os paralelos do filme com a religião hindú mas creio que com o que foi citado aqui já dá para nós tirarmos as nossas próprias conclusões com relação ao "Avatar". Agora, você deve estar se perguntando se devemos ou não assistir a este filme. Para esses tipos de perguntas eu prefiro ficar com o seguinte conselho de Paulo:

"Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado." (Rm 14, 22-23)

 
Pense nisso.


Cláudio Neto


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